Remédio MK Ultra 2 Controlado
- Gameverna
- Apr 23, 2020
- 5 min read
Uma análise a Control

A Remedy tinha tudo controlado, mal nós sabíamos. Sinceramente fiquei surpreendido de ver este jogo nos melhores do ano passado. Não tinha visto nada sobre ele, a curiosidade por algum motivo desviou-se e com a vida atarefada que foi 2019 consegui não ver nada sobre Control. A única coisa que ouvi falar foi um amigo meu que comprou no lançamento e estava todo entusiasmado. Disse-me que era espetacular, mas sinceramente não sei porquê a curiosidade continuou adormecida. Mas realmente não devia, afinal a Remedy fez jogos muito bons começando pelo velhinho mas incrível Death Rally, passando pelos dois primeiros Max Payne e Quantum Break antes de Control. Até mesmo o Quantum Break, que foi um pouco posto de lado pela população geral, achei um bom jogo de acção apesar de alguns problemas chatinhos. Mantendo-me fiel aos meus princípios, não vi qualquer trailer, nem gameplay nem nada dessas cenas que podem potencialmente arruinar o que quer que seja. E ainda bem, não estava mesmo nada à espera do que aí vinha e levei um granda reality slap.

Control começa da melhor maneira possível, um sítio misterioso, onde está a acontecer alguma coisa muito estranha e o nosso personagem parece saber mais do que nós. Não sei explicar bem a apresentação geral mas faz-me lembrar uma série de TV tipo True Detective, Mind Hunters ou até mesmo X-Files. É simples, mas super eficaz e fica muito bem no setting geral. A acção passa-se por completo no edifício da Federal Bureau of Control, uma instituição daquelas americanas que têm aliens na base e pessoas mutantes no sótão. Dentro deste edifício vamos desbloqueando várias secções até termos acesso total e podermos explorar na sua totalidade. Ou seja, vamos cair na redundância de lhe chamar um action-3rd person shooter-metroidvania-non RPG. Apesar de ser sempre no mesmo sítio, os ambientes são deveras variados e não existe uma monotonia fora do normal. Shit is going down no Federal Bureau of Control que se encontra sob quarentena, não devido à Covid-19, mas por uma invasão de seres sobrenaturais. Bastante mais interessante diga-se, mas têm todos de ficar no edifício na mesma. A nossa heroína cú mau com poderes meio psíquicos chama-se Jesse, que não se apresenta como uma estranha, mas ao mesmo tempo é desconhecida.

A trama e o desenrolar da narrativa são um dos pontos fortes de Control. Existe aqui um enredo muito bem conseguido e mais importante que isso, muito bem pensado. Com muito background que em Hollywood dava para, pelo menos, 7 filmes e 4 remakes. Aqui no mundo da Silicon Valley deu para um jogo, se bem que a sequela é mais que certa diria eu. Apesar de muita na narrativa nos ser explicada por diálogos ou interacções com outras personagens, há muito lore escondido nas centenas de documentos espalhados pelo edifício. Quando o enredo e o ambiente de um jogo me faz perder tanto tempo a ler documentos que dava para ler Os Maias… é porque havia ali muito sumo. E estes não são coisas inúteis ou apenas alheiras glorificadas, são realmente interessantes na sua maioria. Parecia que estava ali a desvendar o MK Ultra parte 2, mas desta vez estava mesmo a acontecer, apesar de ser só na minha televisão.

Como devem imaginar, se há exploração então também há upgrades para isto e aquilo, novas habilidades para desbloquear e mais isto e mais aquilo que todos os jogos têm de ter hoje em dia. Sim, mas não vou aborrecer quem ler isto com isso, há várias coisas desse género. Mas o mais importante a reter para quem quiser experimentar Control é que este jogo não é para meninos. Temos aqui meus amigos uma espécie de Dark Souls em modo easy com tiros, e atenção que se um jogo da série souls tivesse modo easy seria uma espécie de modo ultra hard do jogo banal em 2020. Não é um jogo fácil, mas tal como a outra série mencionada é extremamente recompensador. O combate é muito bom, e nunca nos sentimos injustiçados mas sim desafiados a ultrapassar os obstáculos, que são bastantes. Uma das maiores dificuldades prende-se com o facto de termos uma barra de vida à antiga, parece que voltamos à pré-história, tipo 1999. Não é vulgar hoje em dia, mas não é esse o problema, mas sim a sua implementação. É comum um hit de um inimigo relativamente normal nos tirar ⅔ ou ¾ da vida, e a única maneira que temos de a recuperar é apanhar umas gotas que caem dos inimigos que aniquilamos pelo caminho. Posto isto, se estamos com a vida em estado crítico, a última coisa que queremos é ir para o meio da festa sujeitos a morrer com um mero tiro. Ou seja, ou temos um cuidado incrível, ou fácilmente estamos numa situação sem retorno. Ao início devo admitir que foi frustrante em várias situações, mas rapidamente se aprende como lidar com o combate e este fica excelente.

Muito recentemente acabei o Uncharted: Lost Legacy, porque me apetecia um jogo pequeno depois de gastar 120 horas no Persona 5. Gastar não, apreciar. Os gráficos da série Uncharted são lendários no mundo da Playstation, com incríveis paisagens verdes com cidades abandonadas que nunca nenhum ser humano viu (apesar de ser a 100m da cidade) à mistura. Em Control não há cascatas nem elefantes, mas damn son o jogo é muito bonito. Mais importante do que ter bons gráficos é o facto de o ambiente que foi conseguido é perfeito para o fim que se queria atingir. Pena é a minha PS4 sofrer horrores a tentar correr o jogo. Não é incomum haver drops severos na frame rate, e eu nem sou gajo de andar à caça destes problemas, mas aqui interfere directamente com a jogabilidade e cria problemas por vezes graves. Não foi nem uma nem duas vezes em que morri devido a uma queda de FPS tão severa que poderíamos passar a contar os FPM (as in Frames Per Minute). Para lá deste problema, é simplesmente fantástico, e pode ser um problema de plebs (aka gajos com cérebro anticapitalista) que não têm uma PS4 Pro.

Ao longo das suas, talvez, 15 horas, Control nunca fica desinteressante, pelo contrário, com o passar do tempo estamos mais investidos no seu mundo. É um jogo soberbo que fico contente ter tido a atenção merecida ao ser nomeado para vários prémios o ano passado. Ainda bem que o escolhi como uma das vitimas da minha quarentena, não me desiludiu nem um bocado. E para todos aqueles que fazem questão de não ser influenciados pelo bombardeamento de informação ao qual somos sujeitos hoje em dia… Props, as experiências assim são muito mais verdadeiras. Lembrem-se só de uma coisa, se muita gente diz que um jogo é muito bom, é porque provavelmente é, não o ignorem.
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