top of page

Primeiro Contacto: Phillips CD-i

  • Writer: Gameverna
    Gameverna
  • Apr 4, 2020
  • 5 min read

De Zelda a Super Mario e com Hulk Hogan pelo meio... What could go wrong?

Apesar de estar disponível desde a primeira metade dos anos 80, foi inicio dos anos 90 que se viveu a grande febre do compact disc. De repente todo o entretenimento queria entrar na nova moda. A música abandonou as cassetes de áudio, os filmes começam a aparecer neste formato (embora só na era do DVD se tenham convertido por completo), e os vídeo jogos abandonavam os cartuchos por beneficiarem imenso da capacidade de armazenamento. Mas nesta altura parecia que muita gente não sabia que uso haveria de dar a tanta capacidade. Na altura ainda imperavam os gráficos típicos da era de 16-bit, rudimentares comparados com o que se consegue hoje em dia. Começam então a surgir jogos que eram simplesmente filmes interactivos, como por exemplo o famoso e infame Night Trap de 1992. É também neste ano que a Philips, conhecida empresa de electrónica, lança no mercado europeu a Philips CD-i, que, adivinhem, por extenso significa compact disc interactive. Alguns de vocês vão pensar “a Philips fez uma consola?”, a resposta é não. Na verdade fez duas, a CD-i, e a mais antiga Videopac G7000, que data de 1978, e que até obteve algum sucesso na Europa. A CD-i é outra história, tendo ficado conhecida pelas piores razões.

Tal como qualquer outro hardware, o seu sucesso está directamente relacionado com a qualidade do software disponível. E a CD-i foi uma das rainhas dos jogos maus, terríveis e aterradores. Não posso deixar de referir que a Philips teve momentaneamente um acordo com a Nintendo, não vos vou explicar a história, isso dará um interessante texto futuro, mas no fim a Philips ficou com o direito de produzir alguns jogos com personagens da Nintendo. Isto resultou em três jogos da franquia The Legend of Zelda e um jogo do canalizador Mario. A qualidade destes é completamente o oposto daquilo que a Nintendo nos costuma dar. São tão maus que nunca aparecem relacionados com as duas populares franquias nem em nada relacionado com a empresa nipónica. Como eu tenho um gosto peculiar por explorar jogos de qualidade no mínimo dúbia é claro que tive de experimentar a CD-i. E por onde é que comecei? Pelos jogos de Zelda é claro, melhor era impossível. Qualquer um dos três jogos desta franquia na CD-i (Link: The Faces of Evil, Zelda: The Wand of Gamelon e Zelda’s Adventure) é primariamente uma espécie de desenhos animados super mal feitos que entre os vídeos têm o jogo em si. Se querem ter uma noção da qualidade desses desenhos animados sem terem de experimentar uma CD-i é fácil, basta terem uma Playstation 2 e procurarem jogos desenvolvidos pela mítica Phoenix, a qualidade é muito similar. Faces of Evil e Wand of Gamelon são dois sidescrollers que nada têm a ver com a série da Nintendo e que são, em termos de jogabilidade, gráficos, som e tudo o resto que se lembrarem, do pior que alguma vez me passou pelas mãos. Zelda’s Adventure por sua vez é uma aventura isométrica, mais parecido com o material original diga-se, cujos controlos são tão maus que desisti passado pouco tempo.

O comando da “consola” também está a anos-luz de ser bom. Pessoalmente experimentei 3 diferentes, dois deles que se assemelham mais a um comando de televisão e outro que parece um comando de Mega Drive genérico de uma marca barata. Nem aquele que se assemelha a um comando de consola consegue ser bom, mas também verdade seja dita que os jogos da CD-i nem com um Dualshock 4 funcionariam decentemente, tal não é a qualidade dos títulos. Mas não desisti. Pensei… “tem de haver algum jogo decente nesta coisa!”. Pensamento que foi interrompido pela minha mãe a perguntar “Filho, porque é que foste buscar o leitor de VHS ao sótão?”. Mas depois lembrei-me que existe uma versão de 7th Guest para a CD-i, e embora já conhecesse talvez pudesse ser interessante. Mas não, este excelente jogo de puzzles e aventuras estava contaminado por tempos de loading gigantes, o simples mudar de fundo demorava uns segundos. Portanto teria de esquecer adaptações do PC, claramente eram versões inferiores, até o Tetris eles conseguiram estragar. Experimentei ainda vários jogos como o clássico Dragon’s Lair, o péssimo shooter Mac Dog McCree, Hotel Mario entre outros.

Há alguns que se encaixam na categoria so bad its good como por exemplo Burn Cycle e Thunder in paradise, este ultimo protagonizado por Hulk Hogan. Os únicos que me pareceram jogáveis e passíveis de providenciar algum entretenimento foram Lemmings e Litil Divil, ambos originalmente jogos de PC. Isto, devo relembrar, daquilo que experimentei, não me admiro que haja outras adaptações minimamente aceitáveis. Era altura de perguntar ao Google que jogos existiam para este falhanço de sistema que poderiam ser pérolas escondidas. Foi assim que descobri Mutant Rampage: Bodyslam, um beat ‘em up ao estilo Streets of Rage que era até bastante divertido. Os gráficos eram aceitáveis e a jogabilidade funcionava. Mas estava este também minado de desenhos animados horrendos, vá lá que deu para soltar umas gargalhadas. Outro que também era sempre referenciado era Christmas Country, do que consegui encontrar, o único sidescroller da consola. Este não era nada de especial, apenas um jogo de um género muito popular na época, e algo medíocre. Não é que seja mau, mas também não faz nada de surpreendente. Os cenários não têm animação nenhuma, a jogabilidade é um bocado ferrugenta e nem musica tem durante os níveis. Comparando com outros que havia jogado anteriormente era óptimo, pelo menos era funcional e minimamente divertido. Mas houve um jogo que realmente gostei, e muito, uma autêntica pérola escondida que tenho pena de nunca ter saído da CD-i.

The Apprentice é um scroller vertical bastante interessante. A jogabilidade é simples, a progressão do nível é vertical e temos de escalar até ao topo, sem dúvida o titulo com melhores controlos que experimentei nesta consola. Os gráficos são muito coloridos e a animação é bastante boa, sendo estes acompanhados por uma banda sonora divertida. Não é algo que valha a pena adquirir uma CD-i apenas para o jogar, mas se tiverem uma não deixem de experimentar este que é, na minha opinião, a única pérola da CD-i. Isto, como já disse, baseado naquilo que joguei. Verdade seja dita a Philips CD-i não era um sistema 100% dedicado a vídeo jogos, pois esta lia também música e vídeo CDs. Mas no que aqui nos interessa ela falha miseravelmente. No entanto foi uma experiência significativa e enriquecedora ter tido contacto com a CD-i, tal como foi com a Turbografx-16 ou a Panasonic 3D0, que são histórias para outro texto.


Publicado originalmente na Revista Pushstart Nº58 (Janeiro/Fevereiro 2016)


Comments


gameverna%201_edited.jpg
bottom of page