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Perdido na Saturn

  • Writer: Gameverna
    Gameverna
  • May 14, 2020
  • 7 min read

Uma opinião sobre Panzer Dragoon Saga


É surpreendente que Panzer Dragoon Saga nunca tenha tido outra versão senão a original na Sega Saturn em 1998. Nem Saga nem outros da série, mas não vejo uma razão plausível para isso. Muito recentemente foi lançado um “remake” do primeiro para a switch, e em 2006 o primeiro foi também portado para a PS2 só no Japão, mas mais nada. De resto é um deserto, a SEGA esqueceu-se do potencial que a série tem. A única explicação que me vem à cabeça de repente, é que devido ao número baixo de vendas da Sega Saturn, a SEGA tenha a percepção que ninguém conhece Panzer Dragoon, apesar de Orta ter saído na Xbox. Bem, mas sinceramente estará a SEGA errada se for esse o caso? Não tenho bem noção, mas existe certamente um grande cult following em torno desta peculiar série, e diria que principalmente de Panzer Dragoon Saga. Certamente porque é o que menos pessoas jogaram, mas é também, possivelmente, o melhor. Após dois shooters ao estilo arcade, mas que têm grande ênfase na narrativa em relação a outros do mesmo género, a SEGA decidiu escolher o estranho e particular mundo que havia criado em Panzer Dragoon para fazer um RPG. Segundo a empresa um grande jogo deste género era o necessário para ter sucesso com a Sega Saturn, ainda para mais depois de constatar o sucesso de Final Fantasy VII em 1997.

A 29 de Janeiro de 1998 chega finalmente à Sega Saturn aquele que seria o seu grande RPG - Panzer Dragoon Saga. Para termos uma noção do timing, a Dreamcast é lançada a 27 de Novembro de 1998 no Japão, nem um ano depois, e já a Saturn estava descontinuada na europa. Aquele que seria o salvador chegou demasiado tarde, a Saturn já estava em life support e a SEGA só pensava à frente, no que iria fazer com a Dreamcast. Ironicamente até hoje, este é um dos RPGs mais bem recebidos de sempre pela crítica, portanto não foi um excelente jogo do género que salvaria a consola. O que o poderia ter feito era a SEGA ser uma empresa menos YOLO em todos os aspectos. Depois de ser lançado, vendeu o que vendeu, e foi arrumado num baú aparentemente sem fundo. Não é só a SEGA, mas parece que ninguém se lembra de Panzer Dragoon Saga. As únicas pessoas que parecem ter interesse são coleccionadores, e pelas razões erradas porque quase nenhum deles o jogou e só sabem falar do seu preço astronómico. Lembro-me perfeitamente de se conseguir comprar uma cópia no ebay por cerca de 80-100€ talvez à uns 12 anos. Hoje em dia boa sorte conseguirem uma cópia completa e em bom estado por menos de 350€. Com esse preço proibitivo é claro que só um público muito restrito é que tem acesso ao jogo, principalmente porque como já disse não há mais nenhuma versão. Claro que existem emuladores, por favor estejam à vontade se for a única opção, mas se querem jogar por métodos legais precisam de uma cópia física da Saturn. E não é só Panzer Dragoon Saga que é caríssimo nesta consola, o coleccionismo dela hoje em dia é uma cena incrível, com vários jogos acima de 100€ e 200€, e ainda mais caricato é os jogos mais baratos serem no geral mais caros do que noutras consolas. Mas esta é uma história para outro dia.

Para ser muito honesto vai ser extremamente difícil de transmitir o que este jogo é, e o que nos transmite. Isto porque é tão diferente de tudo e mais alguma coisa que, até comparar com o que quer que seja seria injusto e honestamente complicado. O mais parecido que existe são os outros da série que claramente não têm nada a ver na sua base. Mas Saga é um RPG por turnos com uma espécie de ATB similar ao que faz Final Fantasy VII. No entanto em vez de enchermos uma barra, podemos encher até três, o que nos permite executar três acções seguidas. Alguns poderes requerem duas ou três barras, enquanto que as acções mais básicas de ataque normal e utilização de itens só requerem uma. Os combates passam-se todos no ar, em cima do nosso dragão, o que já por si é único, mas em vez de um estilo muito clássico em termos de posição de combate com inimigos de um lado e nós do outro, aqui a acção passa-se num quadrante. Há quatro posições possíveis, e cada uma delas pode dar acesso a pontos fortes ou fracos dos inimigos. Podem também ser zonas perigosas ou não dependendo dos ataques que serão diferidos contra nós. É um sistema de combate muito dinâmico, único, e incrivelmente divertido e eficaz. Por muitos encontros aleatórios que se tenha, nunca se perde o sentido de novidade e espanto pelo que nos está a ser apresentado. É sem dúvida o melhor aspecto de Saga, e é tão difícil explicar, mas garanto que todos os problemas do jogo são obscurecidos pelo combate. Não vão encontrar nada do género fora daqui, pelo menos que eu saiba. Outra coisa muito diferente é que aqui não temos uma equipa, somos só nós e o nosso Dragão, o que acaba por criar uma ligação maior com o mesmo. Até lhe podemos fazer festinhas junto ao camp site onde gravamos o jogo, super fofo.

Onde Saga não ganha pontos é certamente na sua apresentação. Os modelos dos personagens estão a par daquilo que FF7 fez, no entanto o maior problema é que mesmo nas cutscenes, que são de nítida baixa resolução, os mesmos não ficam mais interessantes. A única cidade do jogo (Zoah) Parece um monte de estruturas pré-históricas aleatoriamente colocadas umas ao lado das outras, em que as mesmas formam estranhos corredores e edifícios de difícil identificação. É estranho, muito estranho, não se parece com nada. Além disso é desprovida de vida, apenas alguns NPCs estão presentes, muito poucos na verdade. Aliás o mundo todo de Saga é muito pouco povoado, embora se fale em guerras de grande escala entre facções. Tem provavelmente tudo a ver com as limitações da Saturn, não nos podemos esquecer que devido ao seu hardware, este era considerado um jogo impossível de conseguir neste sistema. Curiosamente em alguns pontos o jogo até tem uma boa apresentação, principalmente nas seções em que andamos de Dragão de um lado para o outro e durante os combates. É certamente um estilo gráfico muito particular da Saturn, nem digo da geração 32-bits mas sim deste sistema em específico, e quem jogar Saga e já tiver alguma experiência com outros jogos da mesma plataforma vai entender rapidamente o que estou a dizer. Um ponto alto, e incomum para 1998, é todos os personagens e NPCs com quem podem interagir terem voice acting. Algo que contribuiu bastante para o facto de Saga vir distribuído por quatro CDs.

Mas não se enganem, o número de CDs não é equivalente à longevidade. E sinceramente? Ainda bem que Saga tem uma duração de cerca de 20 horas. Uma das coisas que mais gostei em Chrono Trigger foi a campanha não ser enorme, mas ser divertida e envolvente durante toda a sua duração. Aqui acontece exatamente o mesmo, não há momentos parados e não há enchimento de chouriços. A história avança a um passo constante sempre com algo a acontecer, principalmente no terceiro e quarto CD, onde a história dá algumas voltas e onde é possível descobrir bastante mais sobre o mundo. A banda sonora que acompanha, é mais uma vez, a par de tudo o resto, única, estranha… mas excelente. Soa a algo de certo modo tradicional, mas ao mesmo tempo misturado com sintetizadores que lhe conferem uma sonoridade algo sci-fi à mistura. A compositora só tinha feito, até então, bandas sonoras para a Game Gear, sendo Saga o seu primeiro grande projecto. Cenas mesmo à SEGA, porque raio estava esta pessoa a compor para Game Gear? Claramente havia aqui muito potencial. Estranho é que fui ver os seus trabalhos posteriores e não tem nada de relevante, mas isto não é culpa da banda sonora, é culpa de ninguém a ter ouvido. Não a sério, até fui ver aquelas listas de "100 best RPGs ever" e nem nas de 100, nem nas de 50 nem nas 10 aparece Panzer Dragoon Saga, claramente ninguém o jogou, caso contrário era impossível não aparecer presente numa dessas listas e até mesmo numa posição alta. Outro problema nisso é que aparentemente grande parte das pessoas que as escrevem tiveram a primeira experiência com um RPG no Witcher 3 e depois disso foram explorar os clássicos e jogaram Final Fantasy X. Posteriormente vão ver outros top 10 para completar o deles e fazem um check do género:


"ok tenho de meter o Chrono Trigger senão pareço ignorante"

"Agora vou meter o Final Fantasy VI porque se meto o VII vou parecer mainstream"

"Tenho que meter o Seiken Densetsu 3 para dar um ar connoisseur"

"Ah e falta-me aqui o Earthbound para dar um toque hipster"


Mas deixam fora de um top 100 um dos grandes e mais únicos RPGs de sempre por ignorância.

Panzer Dragoon Saga é um jogo incrível, e sei que me estou a repetir imenso, mas a palavra que vocês têm de reter é “único”. Não há mais nada sequer parecido, não interessa para que aspecto olhem, é tudo tão peculiar que não vão encontrar em mais lado nenhum algo que se assemelhe ao que é feito aqui. A sensação que fico ao pesquisar rapidamente pela internet sobre este jogo é que muito poucas pessoas o jogaram do início ao fim. Para um jogo de 1998, dos melhores da plataforma onde se insere, sendo um RPG de culto, a falta de informação é surpreendente. Tenho muita pena que não exista uma versão para consolas recentes, de modo a mais pessoas terem acesso a este peculiar título, mas é o que é, e não me parece que isso vá ser corrigido tão cedo. Mas quero acabar este texto com um apelo, a todos aqueles que têm este jogo na prateleira a ganhar pó porque é raro… por favor joguem, ou emprestem a alguém que o faça. Partilhem a experiência que este jogo pode oferecer com aqueles que não estão preocupados com o preço e com o tamanho da pila do vizinho, mas sim com o que o jogo pode oferecer e com a sua importância histórica.

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